terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Ditadura da madreza

 Letícia venutto

Eles são exibidos em toda forma de mídia, - outdoors, sites, capas de revista, programas televisivos e nas passarelas. Descobertos e de forma provocante, os corpos magérrimos das modelos, são venerados e expostos como ideal de beleza da sociedade contemporânea. Não obstante, cada vez mais cedo, ser como elas, tornou-se o objetivo de vida de muitos. Homens, mulheres, adolescentes e crianças, principalmente aqueles que vivem do corpo, - atletas, ginastas, atores, dançarinos, etc.

     Desfile em Madri: Modelo na luta contra a anorexia. (POR ANA ASENSIO)  

Arriscando um discurso meio marxista sobre a observação desse cenário, pode-se dizer que nas últimas décadas, o corpo vem sendo reduzido à simples condição de mercadoria.

Assim como os demais produtos, o corpo magro passou a ser ‘vendido’ com uma espécie de valor agregado. Criou-se uma associação entre magreza e sucesso no imaginário das pessoas. Concepção, que vem sendo paulatinamente edificada, e que, consequentemente, tem induzido à adoção de comportamentos radicais, que podem comprometer a saúde, em prol do emagrecimento; e tem sido responsável pelo aumento da incidência de transtornos relacionados à auto-imagem. Pois, “se há um padrão de corpos a serem consumidos, - leia-se desejados -, a ânsia de enquadrar-se nele gera um sentimento de frustração e angústia naqueles que não conseguem se adequar. Eles se sentem reprimidos pelo olhar da sociedade. É como se vivêssemos uma era de ditadura estética”, analisa a psicóloga Margareth Dias.

            Diante deste contexto, há uma pergunta latente: Quem criou e como difundiu-se esta ‘ditadura’? Segundo Luciana Bertolini, modelo e ex-miss Brasil, a padronização dos conceitos de beleza, foi criada a fim de atender a caprichos da indústria da moda, que é ancorada por sua lógica de mercado capitalista. “Os clientes, - as grifes e os estilistas -, trabalham com modelagens de tamanho padrão. Então, quando se trata de medidas, as agências são rígidas. A altura mínima é 1,70m, e caso tenha essa altura, o peso deve ser 50 quilos, a cintura 60cm e o quadril 90cm no máximo!”, exclamou a ex-miss, com ar de quem considera a imposição absurda.  E de acordo com o médico Eduardo Martins da Costa Lima, realmente é. “O IMC é calculado a partir da altura multiplicada por ela mesma. Em seguida, divide-se o peso pelo resultado da primeira operação. Portanto, ter essa altura e pesar apenas 50 quilos, equivale a um IMC  

(índice de Massa Corporal) correspondente a 17,3   Kg/m², percentual abaixo do ideal, - que é de 18kg/m²”, quantifica o doutor. “A CID (Classificação Internacional de Doenças) identifica como anoréxica aquela pessoa que apresenta um IMC igual ou inferior a 17,5 kg/m²”, complementa Costa Lima e informa que “Entre todos os transtornos psiquiátricos a anorexia nervosa é a que apresenta a maior taxa de mortalidade ao ano”.


   De acordo com dados da Sociedade Mineira de Endocrinologia a anorexia atinge aproximadamente 1,7 milhão de brasileiros, - número considerável, no entanto, desconsiderado -, destes, cerca de 20% culmina em óbito. As causas vão desde inanição a suicídio por depressão”, justifica o doutor. Mas ao contrário do que se imagina, ela não é tratada como um problema de saúde pública.



Existe uma enorme carência de divulgação de informações sobre os perigos que rondam a doença, sobre a fiscalização da venda de anorexígenos e da elaboração de projetos de lei para combater sítios de propaganda pró-anorexia, como certos blogs e comunidades na internet veem fazendo, chamando-a ‘carinhosamente’ pelo codinome de ‘Ana’, conforme denuncia A.M.C, 21, vítima de anorexia em tratamento há um ano, “neles há dicas de como fazer dietas absurdas sem sentir fome e como esconder o problema de médicos e familiares”. O que significa que há uma necessidade urgente de iniciativas por parte do governo, para tornar ilegal essa incitação ao excesso de magreza, bem como alguns programas televisivos e revistas teem feito.



Blog pró-anorexia: http://ana17mia.zip.net/  



Luciana Bertolini acredita que a solução é resgatar valores corporais que foram perdidos, mas que isso só irá ocorrer quando a imprensa também se conscientizar da responsabilidade social dela. “À época da Idade Média a simetria era um valor, que indubitavelmente perdeu lugar para a magreza. O ideal de beleza da mulher era sinônimo de proporcionalidade. As mulheres voluptuosas eram extremamente apreciadas, porque era sinal riqueza ter o que comer”, contextualiza a modelo. De fato, Mona Lisa de Leonardo da Vinci, passava longe de ser magra, e era um modelo de beleza no período medieval. “É claro que para as gerações contemporâneas a beleza daquela época é relativamente sem sentido. Mas, pensando bem, o padrão era sinal de saúde”, ressalta Bertolini.


Monalisa da idade média (Da Vinci). Como seria a Monalisa de hoje?

            Perante todo o exposto, a questão que fica é: Por que não reagir a essa ‘ditadura da magreza’? Pode a estética sobrepujar a ética e o belo o saudável? A resposta cabe a cada um de nós. Portanto, vale lembrar, que o silêncio também é uma forma de corroborar com a difusão deste deturpado modelo estético como estilo de vida.



Veja mais sobre o assunto...



O drama de Anahi com a norexia:


Obssessões – Corpos que gritam:


A pressão da mídia: Beyoncé perde 9kg com dieta de água, pimenta e limão para atuar:   


A dieta de Beyoncé vira dica em sites pró-ana:

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